"eu sou um pássaro que vivo avoando, vivo avoando sem nunca mais parar"
o beija-flor reapareceu hoje na minha janela
depois de tanto ter ficado ausente
seus olhos brilhavam como antes
meu coração batia mais forte do que nunca
eu lia um livro dignamente ateu
perdia-me nas letras do evangelho de saramago
um estalo, uma luz, um som
a visão do beija-flor
belo como nos meus sonhos
fez-se homem o pássaro
fez-se rubra a minha face
queria dele tudo aquilo
que um ser apaixonado pode querer
a voz soava como canção
os gestos eram delicados
típicos de sua espécie
também eram rápidos
vivia aquilo intensamente e no íntimo desejava
uma gaiola pra prender o pássaro junto a mim
a paixão traz sempre consigo
um pouco
dos sentimentos estúpidos
egoísmo, possessão...
eu queria prender o pássaro,
desejava a gaiola enquanto o admirava
talvez por desejar muito
não percebi o tempo passar
foi-se o meu beija-flor
visitar outras flores,
ficou o meu coração.
desejando a gaiola,
alimentando a paixão.