domingo, abril 17

a boa vida

- Charles Bukowski

uma casa com 7 ou 8 pessoas
vivendo ali
rachando o aluguel.
há um estéreo nunca utilizado
e um par de bongôs
nunca utilizado
e há panos cobrindo as
janelas
e você fuma
enquanto baratas vivas
escorregam sobre os botões de sua
camisa e despencam no
chão.

está escuro e alguém vai em
busca de comida. você come
e dorme. todos dormem ao mesmo
tempo: no chão, sobre as mesas,
sofás, camas, nas banheiras. há até
mesmo uma pessoa lá fora no mato.

então alguém acorda e
diz, "vamos lá, vamos fechar
um!"

alguns outros acordam.
"opa. é isso aí."

"beleza. vamos lá, alguém aí
fecha dois. vamos nos
chapar!"

"isso. vamos nos chapar!"

fumamos alguns baseados e depois
voltamos a dormir
trocando apenas de lugar
da banheira para o sofá, da mesa para
o tapete, da cama para o chão, e um novo
sujeito desaba no mato
lá fora (...)

_____________________________________

Mais um poema daquele que eu considero mestre! Retirado do livro "O amor é um cão dos diabos" Dá-lhe Bukowski.

sexta-feira, abril 8

É a noite.

O poeta sabe que a noite é louca

A noite é viva, bem mais que o dia

Á noite trabalham os poetas loucos

Perambulam os cachorros magros

E os lateiros alucinados


A noite para o poeta é um berço

Que não foi feito para dormir

Uma cama pra não deitar

Mais um gole para se beber

Um baseado para se fumar

Acompanhados de uma boa música

Para se ouvir e cantar


O poeta é homem, vida e trabalho

Ser poeta foi apenas obra do acaso

Da casa do lado de parede pintada

Que não desbotou.


É a tua luz que não se apagou e eu

Relembrando teus beijos tão sem amor

É o poeta que mesmo calado inspira

Pecado e poema aos olhos do leitor

É a escrita sem sentido, sem ouvinte

Ou crítico pra vir reclamar

É a minha vontade de não se calar,

Apenas amar.

terça-feira, abril 5

Como ser um grande escritor

- Charles Bukowski

você tem que trepar com um grande número de mulheres
belas mulheres
e escrever uns poucos e decentes poemas de amor.

e não se preocupe com a idade
e/ou com os talentos frescos e recém-chegados.

apenas beba mais cerveja
mais e mais cerveja

e vá às corridas pelo menos uma vez por
semana.

e vença
se possível.

aprender a vencer é difícil -
qualquer frouxo pode ser um bom perdedor.

e não se esqueça do Brahms
e do Bach e também da sua
cerveja.

não exagere no exercício.

durma até o meio-dia.

evite cartões de crédito
ou pagar qualquer conta
no prazo.

lembre-se que nenhum rabo no mundo
vale mais do que 50 pratas.
(em 1977).

e se você tem a capacidade de amar
ame primeiro a si mesmo
mas esteja sempre alerta para a possibilidade de uma
derrota total
mesmo que a razão para essa derrota
pareça certa ou errada -

um gosto precoce da morta não é necessariamente
uma coisa má.

fique longe de igrejas e bares e museus,
e como a aranha seja
paciente -
o tempo é a cruz de todos,
mais o
exílio
a derrota
a traição

todo este esgoto.

fique com a cerveja.

a cerveja é o sangue contínuo.

uma amante contínua.

arranje uma grande máquina de escrever
e assim como os passos que sobem e descem
do lado de fora da sua janela

bata na máquina
bata forte

faça disso um combate de pesos pesados

faça como o touro no momento do primeiro ataque
e lembre dos velhos cães
que brigavam tão bem:
Hemingway, Céline, Dostoiévski, Hamsun.

se você pensa que eles não ficaram loucos
em quartos apertados
assim como este em que agora você está

sem mulheres
sem comida
sem esperança

então você não está pronto.

beba mais cerveja.
há tempo.
e se não há
está tudo certo
também.

________________________________

Vou publicar alguns poemas desse grande escritor. Entre um e outro poema de minha autoria, o mestre vai nos dar a honra de suas palavras.