domingo, agosto 15

Sangue


Percebi meu lábio sangrando

a gota de líquido vermelho

coloria minha boca seca

e o sangue vinha carregado

menstruado, abortado


Dançavam em minha pele

átomos de álcool, água, saliva

a gota carregava amor e mágoa

desejos, certezas, algumas mentiras


Cuspi tudo na pia branca

o branco leite, o vermelho vivo

de súbito lembrei da noite anterior

engolia o sangue das uvas

engolia ferozmente

era como se estivesse a engolir

o sangue das minhas viúvas


Viúvas do amor derramado

viúvas dos sonhos roubados

viúvas até do que não foi encontrado


Observo novamente o branco leite,

o vermelho vinho

e jazem ali os corpos

de minhas esperanças mortas.

2 comentários:

  1. Muito bom!!!! cenográfico praticamente!!! sahushas bjos!

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  2. A tua poesia se entrelaça por entre os nossos desejos que nos estremece num turbilhão de sentimentos que não ouso chamar de amor.

    Ternura sempre!

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