quinta-feira, setembro 30

Tom

tuas perguntas soam ao meu ouvido

tal qual interrogatório policial

teus passos seguindo os meus

desviam-me de meu caminho habitual

algumas vezes perco até a direção

as mãos que antes vinham de encontro

aos meus braços, agora vão de encontro à

minha mochila surrada, à procura da

prova do crime

teu olhar que tantas vezes fitou o meu

fitava e consolava, fitava e sorria

agora apenas encara.

se meus olhos tomavam um tom avermelhado

logo tu vinhas gentil e carinhosa:

tava chorando minha menina ?

hoje o tom avermelhado de meus olhos

te causa apenas desconfiança

medo e me fala com ironia

cada vez que chego em nosso lar

tu colocas um tijolo no

muro que nos separa

quem irá derruba-lo minha velha senhora?

perco-me à procura da resposta.

segunda-feira, setembro 20

Minha Deusa

Minha nêga-menina

ainda é menina?

ou será que é mulher?


Cheiravas a inocência

e um prazer natural

tinha um sorriso gingado

e um olhar fatal


Hoje segue por aí

nas ruas daquela

cidade de luz


Diz que é filha da lua

que sua mãe lhe ilumina

Diz que é companheira do sol

que ele sempre lhe guia


Mas no fim o que eu bem sei

é que teu sexo exala

um atraente perfume

perfume das deusas das ruas

perfume das deusas da terra

daquela terra de sol.

segunda-feira, setembro 13

Querendo não ser.

É mais sincero do que posso imaginar

mais intenso que o brilho dos meus olhos

caloroso e encantador com palavras fortes

rasgando idéias fixas e enraizadas no peito

Agora é saudade instalada no coração

dúvida que não para de arder na

brasa do fogo da paixão que nasceu

Entendimento prazer e carinho

brigas suor medo e tensão

Os corpos que se atraem inocentes

deixando de lado compromissos atados

conservadorismo castrado

É poesia que soa aos ouvidos embalando

conversas meio sem sentido

é música verdadeira tocada pelo

desejo das almas que se querem

É

querendo não ser

mantém-se no instante maior do querer

é voz sussurrada no ouvido do outro

com medo da palavra ganhar o mundo

é beijo roubado em meio a risos

irônica inocência,

nem pensam no futuro

quinta-feira, setembro 9

No ir e vir das letras.

♪ E no meio de tanta gente eu encontrei você ♪

Encontrei o que não estava perdido nem desencontrado

Encontrei o calor que esquenta outros braços

e os lábios que beijam outra face

♪ Entre tanta gente chata sem nenhuma graça, você veio ♪

E veio como uma enchente lavando a minha alma

E eu me perguntando se as gotas dessa chuva

já molharam outras casas

♪ E eu que pensava que não ia me apaixonar ♪

Criando frases feitas e bobas apenas

pra me aproximar.

Olhando ao redor, procurando os outros que

teimam em me alertar

que teu coração não tem limite

e são muitas as donas desse grande lar

♪ Mas com você eu fico muito mais bonita, mais esperta ♪

Teus versos vêm de encontro à minha melodia

mas tuas pernas vão de encontro à tua vida

teu amor é doce e embriaga como o vinho

mas desse vinho não quero mais beber.

sexta-feira, setembro 3

Clave



Ela representa o que de

mais puro existe em mim.

Representa um sonho de infância

a infância sofrida, não tão inocente

porém, repleta de sonhos.

Ela representa o desejo e

a sede de todos os dias

a fome, ânsia, o prazer, o querer.

Ela representa a voz dos

amados, o choro dos sofridos

a alegria dos passistas

os delírios dos ébrios

representa a minha sujeira

meu escarro e lágrima

desabafo e grito

Representa.

representa o que eu

guardo de mais sujo

e o que guardo de mais limpo

representa as brincadeiras

no meio da rua e

as bebedeiras nos bares da cidade

representa meu corpo dançando

no meio do salão lotado

meu corpo rebolando

transpirando paixão

ela representa.

representa a voz mansa de Marisa

e o dedilhado de Caetano

a rebeldia de Raul

e o batuque do Cordel

o samba de alcione

e o forró de alceu

representa enfim as vozes que me embalam

e as melodias que me emocionam.